segunda-feira, dezembro 05, 2011

flor de arte


flores é o que queres?
- colhe-as das mãos do artista!
mas não fiques certa da primavera
flor de arte é mais que natureza
é menos que ideia,
é flor incompreendida
flor morta é flor oferecida
e se a oferta é linda 
também é inexpressiva
e se as recebe terna
tua ternura será mentira?
pois flor de arte não é dádiva
é fantasia
e se por acaso a quiseres
antes saiba consegui-la
penetrá-la sem destruí-la
dominá-la sem possuí-la
faz-te bem senti-la?
sinta-a toda e não parte
pois o artista é que é a flor de arte.

não identidade


                                  à adorno

olho e paisagem
:
um eu diviso
*
entre a mira e a miragem
!
um eu aflito
&
o viajante e a viagem
...
um eu que é rio
~
e que também é margem
?
que tudo imagina
#
e não quer ser a imagem
@
que tudo domina observa e elimina
$
e está de passagem

^
um eu sem jeito
um eu sem teto
sujeito?
abjeto?

me


equidistância perdida
sem coordenada
de alma banida
de alma danada
de alma bandida
inquieto esqueleto
bicho do medo
de estar lindo
de estar calmo
o que me falta
o que me esqueço.

vaka


kultura não se persegue
não se laça
não se abate
não se sangra
não se espeta;

kultura não se assa
não se kome
não se arrota com farofa
nem se defeka;

kultura é kultura
vaka é vaka.

imperativo heroico

                                                    à nietzsche

- aja em desacordo com uma lei universal:
viva e morra leve.

último dilema


tudo quer ser arte
mas a arte não quer ser.




migrante


sem costas nem apostas
sem chão nem limite sem nada
chamas da última casa
dúvidas na próxima esquina
um nada que é tudo
um tudo que é nada.

sacrifício


quero correr numa estrada de nuvens brilhantes
à procura de uma mulher nua,
de olhos em punhal e cabelos negros;

sim, quero encontrá-la sobre a areia de alguma praia do céu,
e apesar do vento escondendo seu rosto sob um manto místico
desenharei seu vulto com uma música nos lábios;

e quando minhas pernas murcharem,
rasgarei meu corpo com a alma e seguirei voando;

e mesmo que deus não permita, 
da ponta afiada daquele olhar em canto farei meu sacrifício.

telegrama

te amo tão rápido e visceralmente que até dá esquecimento porque lembrar é tempo é abismo é tormento é localizar-se pôr-se em vista minh’alma não é gramática meu céu é de estrelas desarrumadas e minha geografia é tonta te amo em círculo à noite ao vento.