em minha terra tem poetas
que nem frutas no mercado
sonham com as moscas
e acordam no tablado
onde vivo a arte é clandestina
e mesmo assim viceja
transgride o verniz dos gabinetes
onde o Estado sobeja
por cá também há rios,
matas, mitos, queimadas
ladrões de colarinho,
almas esbandalhadas
tem câmaras, assembleias,
palácios onde vivem catrepeiros
aqui ainda se faz tocaia
a mando de fazendeiros
em minha terra tem miséria
para um magote de vagabundos sustentar
permita deus que todos morram
para que eu possa ficar
pois em minha terra ainda há poetas
e enquanto houver arte e magia
nos será permitido sonhar.